Não posso mentir que tenha me entusiasmado com o anúncio de quem seria o novo Papa desde o início, não por sua pessoa em si, até porque não o conhecia anteriormente ao conclave, mas por sua nacionalidade. É certo que, apesar de admirador do tango e de um bom vinho argentino, como brasileiro que sou, não tenho grande afinidade por este povo, que sempre nos transmitiu uma imagem arrogante, através de seu porta-voz, o jogador Diego Maradona.
Mas passada a impressão negativa inicial, todas as
atitudes e, até mesmo, a escolha do nome, influenciada por um brasileiro, de
nosso novo Papa, me agradaram muito.
Habemus Papam! Papa Francisco, o cardeal argentino Jorge
Mario Bergoglio de 76 anos surpreendeu a banca de apostas e a mídia mundial ao
desbancar todos os favoritos a suceder o Papa Bento XVI no comando da Igreja
Católica.
Ao escolher pela primeira vez o nome Francisco, numa
referência a São Francisco de Assis, e logo em suas primeiras ações, o primeiro
Papa latino-americano e o primeiro jesuíta deu mostras de que as tão sonhadas
reformas da Igreja Católica estão a caminho.
São Francisco de Assis foi um frade italiano que depois
de uma juventude irrequieta e mundana, converteu-se e viveu na extrema pobreza
os caminhos cristãos, deixando exemplos de devoção e caridade à humanidade. O
Papa Francisco já revelou ao mundo que a escolha deste nome e desta referência
se deu quando o Conclave já estava definido e ao receber um abraço apertado e
carinhoso do Cardeal brasileiro Dom Cláudio Humes, este lhe dissera: “Não se
esqueça dos pobres!” e o eco de sua fala povoou a mente do sumo pontífice, “os
pobres, os pobres”.
Assim, todos se assustaram ao ver nascer um Papa que anda
a pé, que dispensa a pompa e opulência da Cúria Romana para chegar ao próximo,
tocar e ser tocado, fazer-se presente no meio do povo de Deus, celebrar com
simplicidade, mas com piedade.
Voltar ao hotel que se hospedara durante os últimos dias
para pagar a conta e agradecer aos funcionários, num mundo em que dar calote e
desprezar àqueles que nos servem é praxe aceitável, fez milhões refletirem
sobre suas próprias atitudes. Abençoar o cão guia que levava um cego em sua
primeira audiência com a imprensa, fez nos lembrar do próprio inspirador
Francisco de Assis conversando com os animais, que também são criaturas de
Deus, numa sociedade que relega muitas espécies à extinção.
Refugar adornos de ouro e prata, o tradicional calçado
vermelho e o manto de veludo já deram o tom que teremos um Papa que se importa
mais com a conversão do que com os paramentos e aparatos “litúrgicos”.
Ao seguir para sua apresentação, no ônibus com os demais
cardeais e permitir que os mesmos utilizassem seu elevador privativo, Papa
Francisco mostra que, assim como o próprio Cristo, vai caminhar junto de seu
povo, ao lado de quem precisa de seu amparo e direção, e não, elevado por
tronos solenes que o afastam do próprio corpo da Igreja. Assim, revela sua face
jesuíta que quer uma Igreja missionária para amparar seus fiéis.
Na primeira oração do Angelus e na homilia da missa
celebrada no mesmo dia, em que a liturgia tinha como evangelho a parábola da
mulher adúltera, Papa Francisco nos lembra que Deus é extremamente
misericordioso e não se cansa de perdoar, ao contrário de nossa limitação
humana que tende a negar o perdão e uma nova chance ao próximo. Ao final desta
celebração, o Papa ficou na porta da Igreja como um padre do interior e
cumprimentou os fiéis. A multidão que aguardava no bloqueio também não foi
esquecida, ganhou abraços, apertos de mão e o simpático sorriso de um sucessor
de Pedro, que deixa o protocolo de lado para mostrar sua face humana e acolhedora.
Numa época em que alguns presbíteros se isolam da comunidade e somente se
importam em exibir uma Igreja reluzente e ritualizada, ele dá o exemplo de
humildade, de proximidade e pede uma ação pastoral de seus membros para tornar
a Igreja mais “familiar”.
Papa Francisco tem dado a tônica de como será seu papado,
e como quer que cardeais, bispos e padres se comportem junto dos fiéis católicos.
Parece que a cada ação do novo Papa, ecoa outra vez a voz do cardeal Humes: “os
pobres, os pobres”. A missão de Francisco surge novamente no seio da Igreja
para mostrar que não foi apenas pelo respeito à natureza e aos animais, e pela
vida pobre que se destacou, mas também quando escutou do Cristo no crucifixo: “Francisco,
vai e reconstrói a minha Igreja, que está em ruínas!” e foi.
Altair Nogueira é publicitário, presidente da Câmara
Municipal de Três Corações e presidente da AMICAM (Leia mais em
www.altairnogueira.blogspot.com.br)