Quando o apresentador Ratinho iniciou sua carreira na televisão aberta, a música “Vamos quebrar tudo!” da dupla caipira Gilberto e Gilmar era a trilha sonora que embalava as constantes brigas que sustentavam os picos de audiência de seu programa. Nos últimos domingos lendo sobre a ação dos grupos denominados “Black Bloc”, me lembrei desta canção, que seria a mais adequada para o momento triste em que vivemos, de pessoas que saem às ruas, se misturam aos manifestantes e no final, quebram tudo que acham em seu caminho. De um passado recente em que “caras pintadas” saíram às ruas e conseguiram o impeachment de um presidente de forma pacífica e ordeira, chegamos ao tempo em que “caras tapadas” praticam atos de vandalismo, fazem baderna e arruaça, com slogans anarquistas e protestam contra tudo e todos, sem defender uma causa clara.
Na semana passada, a revista Veja estampou em sua capa a
foto de Emma, 25 anos, uma das integrantes do “Black Bloc”, irreconhecível é
claro, já que estava com uma camiseta enrolada na cabeça para esconder o rosto.
Inconcebível em minha humilde opinião, pois quando defendemos uma causa, temos
que “dar a cara a tapa”, ou fica a má impressão em quem vê este tipo de
atitude, muito comum nos criminosos desde os tempos do “bang-bang”. O que
fizeram seus comparsas depois disso? Foram para a frente da Editora Abril que
publica a revista, atearam fogo em exemplares da mesma, chutaram grades e
portões, tentaram invadir a sede e todo tipo de baderna que se pode imaginar.
Nesta semana, em suas páginas amarelas, a publicação traz
uma entrevista reveladora com o polêmico cantor Lobão, personagem emblemático
da música brasileira, por quem admito não ser simpático à maioria de suas
opiniões, muito menos fã de suas canções, mas confesso que gostei do que vi,
com muita lucidez, o roqueiro fala deste tipo de manifestação entre outros
assuntos e nos faz refletir sobre a alienação destes grupos.
"Ficar quebrando coisas, francamente, é constrangedor. Ainda mais de máscara na cara. Se eu fosse governante criava logo um 'passeatódromo'. Assim, os manifestantes poderiam reivindicar o que quisessem e dar entrevista para o Mídia Ninja sem atrapalhar a vida dos outros nem depredar o patrimônio público. Aliás, vamos combinar que independente esse pessoal não é. Nos protestos, eles ficaram ao lado dos manifestantes o tempo todo e provocaram os policiais, partindo do pressuposto maniqueísta de que soldado é bandido e os outros, mocinhos.
Sou a favor de manifestações qualquer que seja a causa, desde que tenha uma causa definida. Com objetividade e foco, o país poderia ter dado grandes passos."
Concordo plenamente com o
Lobão, se não me engano, pela primeira vez. Todos querem ir às ruas, como se
vivêssemos num grande desfile de escolas de samba, mas a falta de uma causa bem
definida, não leva a resultados concretos. Precisamos mais ação e menos falação.
Aqui mesmo em nossa cidade tivemos exemplo de manifestações pacíficas
organizadas pelos grupos “Amo TC” e “Acorda TC” que se desdobraram em diálogo
com o poder público e culminaram com a redução da tarifa de ônibus.
Após os conflitos
registrados em protestos no Recife, o secretário de Defesa Social de
Pernambuco, Wilson Damázio, decidiu que a ação policial será intensificada em
manifestações na capital pernambucana. Com a medida, manifestantes terão
mochilas revistadas em atos na cidade e ficam proibidos de usar
máscaras. “A Constituição Federal no seu Artigo 5° garante a livre
manifestação, porém veda o anonimato”, argumentou Damázio.
Sou obrigado a
concordar com a atitude do governo pernambucano, pois em toda a minha vida
participei de diversas manifestações em nossa cidade, mas nunca apoiei atos de
vandalismo para atingir nossos objetivos. Acho que num país onde a Ministra da
Cultura autoriza investimentos milionários através da Lei Rouanet para desfile
de estilista em Paris, enquanto fundações educacionais se afundam em dívidas
sem apoio nenhum do governo federal, que só empresta dinheiro para quem não
precisa, Eike Batista e outros, temos que continuar protestando sim, mostrar
nossa insatisfação, mas não com baderna e quebra quebra, pois no final de tudo,
quem paga as contas sempre somos nós.
Quem defende uma causa justa, não tem medo de mostrar a cara!
Altair Nogueira é publicitário,
presidente da Câmara Municipal
de Três Corações e da AMICAM
Nenhum comentário:
Postar um comentário