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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ah, lek, lek, lek...

     Gosto não se discute, já dizia minha avó. E gosto musical então, nem se fala. Hoje, com a internet, vivemos um momento em que muitos cantores se tornam sucesso a partir do número de acessos de seus clips no site de compartilhamento You Tube. Vejam como exemplo o caso do sul coreano Psy, com mais de 1 bilhão de acessos, é o mais novo pop star mundial e abalou até o carnaval de Salvador com sua passagem relâmpago pelo trio de Cláudia Leitte.
      Sempre discuti com os mais ácidos críticos de música a respeito da denominação “Música Popular Brasileira”, geralmente utilizada para se referir a um restrito casting de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Betânia, João Gilberto e outros poucos, a quem ressalto, são cantores do mais alto padrão de qualidade vocal e de interpretação, que têm músicas eternizadas não só em cenário nacional, bem como entre os hits internacionais. Mas por que não estender esta classificação a todas as músicas que venham genuinamente de nossos cantores e compositores e, não somente, àquelas que a elite aprova.
      Mas, vez ou outra, quando um “Ai se eu te pego” da vida rompe as barreiras oceânicas e conquistas celebridades e público em terras estrangeiras, lá vêm os pseudo-entendidos falar que o brasileiro não tem gosto refinado e só coloca nos topos da parada de sucesso, letras de duplo sentido ou sem sentido nenhum. Mas se Chico Buarque canta para “jogar pedra na Geny, jogar bosta na Geny”, todos aplaudem de pé a ousadia e irreverência deste mestre que merece ser reverenciado.
      O hit do carnaval 2013, como não poderia ser diferente na contemporaneidade, veio de um clipe compartilhado no You Tube, que custou cerca de R$70 para ser produzido num churrasco, e contou com um empurrãozinho para o sucesso, quando o craque Neymar repetiu a coreografia do “passinho do voltante” na concentração do Santos Futebol Clube. O “Lek, Lek, Lek” agora está em todos os canais, e os meninos pobres da favela carioca já usam roupas de grife em suas aparições, nada mais justo, após conquistarem mais de 15 milhões de acessos nas redes sociais e muita audiência para as emissoras de rádio e tv.
      O funk e o hip hop são ritmos com apelo popular e são a trilha sonora preferida de milhões de brasileiros país afora, mas ainda enfrentam certo preconceito, um pelas letras polêmicas que denunciam a triste realidade das comunidades mais pobres que enfrentam a criminalidade, a corrupção e a falta de acesso aos serviços públicos, o outro pelo tempo em que suas letras somente faziam alusão ao sexo e às drogas. Mas tanto o funk quanto o hip hop estão mudando e isso pode ser a grande chance de que nossos especialistas e a sociedade em geral respeite esta produção fonográfica e a trate em termos de igualdade com a dita “Música Popular Brasileira”.
      Músicas como as que são entoadas pela Mc Jenny que, com seu “Dig Dim”, foi parar na trilha sonora do maior sucesso infantil dos últimos tempos, a novela Carrossel; o “Lek, Lek,Lek” dos meninos de Niterói e a grudenta “Ela é top” do MC Bola, que não sai da cabeça desde a primeira vez que a ouvimos são exemplos de que o funk não precisa de palavras de baixo calão ou alusivas a coisas negativas para emplacar, assim o ritmo contagiante pode ser associado a letras divertidas e comportadas. Enquanto o hip hop, cada vez mais, assume o papel de música de protesto e conscientização, dando oportunidades aos talentos das comunidades darem voz ao seu povo.
      Nem sempre nossos ouvidos querem apenas belas melodias e letras românticas e reflexivas. As clássicas composições que mexem com nossos sentidos ainda são mágicas e provocam verdadeira catarse em quem as ouve, mas há momentos de descontração e alegria, em que um bom ritmo com uma letra simplória pode ser a melhor pedida. Há momentos em que ouvir uma letra de denúncia que mostra as diferenças sociais e os conflitos ainda existentes em nossa sociedade pode ser melhor que assistir aos sangrentos noticiários de hoje em dia. Além disso, o chamado sertanejo universitário, com raras exceções, ocupou o lugar do antigo funk na questão das letras vazias, com duplo sentido ou com alusão à comportamentos degradantes.
      Por isso, o que conta mesmo é a música que o povo gosta, e se ele gosta, alguma qualidade ela tem. Melhor um "Lek,Lek,Lek" ou um "Dig Dim" que todos podem ouvir juntos na sala de casa do que um "Não vai embora não, deita aqui na cama/Se seu pai te perguntar, você tá com Luan Santana".

     Altair Nogueira é publicitário, atual presidente da Câmara Municipal de Três Corações, twitter:@altair_nogueira)









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